sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pára Eduardo!

Por Adrieli Cancelier

Eu não lembro o que a gente estava comendo, não era lanche, nem refil do Burguer King.
Estávamos conversando sobre os nossos planos malignos de evolução milionária, envolvendo galinhas de três cabeças ou vacas amarelas, quando de repente eu vi uma senhora loira de uns 60 anos eufórica correndo pela praça de alimentação do shopping. Ela gritava:
    -Pára Eduardo! Pára Eduardo! Pára Eduardo!
Logo percebemos que ela corria atrás de um senhor igualmente branco e aparentemente mais novo. Ele corria trotando com os braços semi-levantados e devagar, mas ainda assim a senhora não conseguia alcançá-lo.
Atrás deles um segurança de terno preto e um walktalk na mão esquerda corria com um pouco mais de velocidade.
O Andrius me olhou assustado e perguntou o que estava acontecendo. E eu com o coração cheio de pena respondi:
    -Coitado. O homem é doente.
O Andrius então já se preparava para levantar e segurar o pobre homem doente que estava fugindo daquela senhora. Num ato de heroísmo ele gritaria:
    -Peguei!
E todos ficariam felizes e satisfeitos.
Mas antes que os movimentos do Andrius pudessem significar que ele estava levantando da cadeira, o segurança que já havia ultrapassado os dois senhores segurou um menino pequeno que surgiu entre as mesas da praça de alimentação e o devolveu a vó eufórica.
Percebemos então que o Eduardo era na verdade o menino pequeno, e o senhor branco (que não era doente) e a senhora eufórica estavam tentando pegar o garotinho fugitivo.
Com um sorriso o menino subiu no colo da vó e eu acho que pude escutar o que ele estava pensando:
    -Eu quase consegui!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ráu Shengi iong

Por Andrius Luiz

Foi numa manhã que acordei na casa da Adrieli que a história aconteceu. Levantei cedo do colchão no chão da sala, lavei o rosto, peguei minhas coisas, despedi-me do meu amorzinho que me respondeu com alguns resmungos incompreensivos, disse que também a amava (acho que o resmungo significava um “Eu te amo”) e fui embora.

Eu tinha uma entrevista de emprego pela manhã e dessa vez não queria ficar a manhã inteira de barriga vazia, fui a uma lanchonete cheia de rostos orientais e fui atendido pela única pessoa com um rosto ocidental que perguntou o que eu queria, depois de ler o quadro na parede onde dizia: “x-salada: 2,30” não tive dúvida de que era isso, um x-salada curitibano com pão pequeno e bordas secas, hambúrguer pronto tão pequeno no diâmetro quanto na espessura, uma folha de alface, algumas rodelas de tomate e se eu tivesse sorte viria com uma fatia fina de queijo.

Fiquei frustrado após meu pedido ser recusado, eles não queriam ligar a chapa porque era muito cedo, ainda era um pouco antes das 9h. Tive que me contentar com o “salgado mais refresco: 1,30”.

Saboreando minha coxinha e um copinho plástico com suco de pacotinho vejo um sujeito entrando sozinho, sentando e pedindo um “litrão”. Fiquei curioso, o que será que viria? Um litro de leite? Um litro de café? Mas o que chega foi um litro de Skol acompanhado com um pedido de desculpas:
- Desculpe, mas eu não tinha nenhuma garrafa gelada, elas chegaram quase agora e ainda não deu tempo de gelar.
-Não tem problema, traz um copo com gelo.

Nesse momento já deveria ser 9h da manhã, muito cedo para ligar a chapa, mas não tão cedo para tomar um litro de cerveja com gelo. Com gelo! Isso mesmo, com gelo! Não existe nenhuma hora, em nenhum lugar, sob nenhuma circunstância que se pode tomar cerveja com gelo, mas ele tomou.

- Meu dentista era as 9h, mas fui lá e ele me passou para as 10h, vou ficar sem fazer nada até lá.
Não sei para quem ele disse essa frase, se foi para alguém na lanchonete ou se foi para um espírito maligno que o atormenta e lhe obriga a tomar cerveja com gelo.

Mas foi ao pagar a conta que me aconteceu o fato mais estranho, parei em frente ao caixa e uma mulher me disse:
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion

As pessoas ainda dizem que eu tenho problema de dicção, é porque elas não conhecem essa mulher.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion

Será que o espírito maligno da cerveja com gelo que atormentava o pobre homem invadiu o corpo dessa mulher e me lança pragas na língua secreta dos espíritos malignos?
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion

Claro! Essa mulher deve ser uma japonesa de verdade que não sabe falar português, dizem que aqui em Curitiba são tantos.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong íon

Se ela fosse uma japonesa mesmo porque ela teria saído do Japão e vindo para o Brasil? Ora! Lá deve ter celular com GPS, câmera de 15 MP, rádio AM/FM, TV com mais de cem canais em alta definição e muito mais por menos de US$ 10. Então porque ela trocaria isso pelo Brasil?
- O que?
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion

A não ser que ela estivesse cansada de tanto assistir desenhos japoneses, eu que moro no Brasil e passa desenhos japonês só de vez em quando já estou cansado.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong íon

Mas em algum canal em alta definição do seu celular deveria passar Pokémon, eu não me cansaria de assistir Pokémon.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong íon

A não ser que ela não seja japonesa, mas sim uma chinesa fugindo do governo comunista e ditador porque ela lutava pela independência do Tibet.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion

Deve ser chinesa, mas saber disso não ajuda em nada na comunicação para que eu possa pagar a conta.
- O que?
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion

Já sei! vou fazer mímica, mas não vai pegar bem eu fazer mímica das palavras: coxinha de galinha e refresco.
- Deu R$ 1,30! – Disse para a chinesa a mulher ocidental no fundo da lanchonete.
Depois de longos minutos de diálogos produtivo com a atendente chinesa pude ir embora, dei uma olhada para a outra mesa e ainda estava o homem agarrado com seu litrão, nessa altura de tempo os gelos já estavam derretidos enxaguando a cerveja.
Com os pés na rua olhei bem para minha nova amiga, a chinesa, vi no seu olhar todo o sofrimento causado pelo governo chinês e gritei:
- Free Tibet!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Onde vivem os monstros

Por Adrieli Cancelier

É uma cidade tão grande e maluca que quando a gente de repente pára (sem a nova reforma ortográfica) tudo parece meio melancólico. Às vezes dá vontade de pegar um barco a velas e ir navegando até o mundo tranquilo e desorganizado dos monstros e descobrir que na verdade eles são bem legais.
Mas aqui até mesmo as nossas lágrimas soam engraçado.
Andamos quilômetros esses dias até o parque São Lourenço, justo num dia muito quente em qual provavelmente os mosquitos estavam com muita sede e tomaram um litro do meu sangue (o quilo que eu havia engordado com muito esforço).

Durante o caminho ficamos procurando o tesouro escondido no Bosque do Papa João Paulo II, descobrimos que ele está em algum lugar alto onde se encontra uma luz eterna e que O onipotente está neste lugar. Descobrimos também que o tesouro escondido é muito muito grande. Tenho esperanças de encontrá-lo algum dia.
No passeio eu vi também uma coisa que eu podia jurar que Criciúma tinha muito mais: borboletas. Mas não foram duas borboletas, nem três. Foram umas 30 borboletas grandes e alaranjadas, todas juntas num canteiro de flores ao sol. Lindo. Parece até a gruta de Criciúma.

 E por falar em Criciúma, eu quase ia esquecendo. Amanhã no Ventuno Pub vai rolar showzinho, divirtam-se por mim. E em Curitiba amanhã tem CarnaRock e eu vou de CEC, afinal meu timão vem me dando um pouco mais de alegria ultimamente.

E depois de deitarmos sobre a grama do São Lourenço, tomarmos sorvete, ver as crianças brincando, os patos, os peixes e as capivaras nadando no lago voltamos pra casa sob aquele sol escaldante e chato que até me dava saudades do Rincão. E apesar de tudo até quem nos via lendo jornal na fila do x burguer sabia que estávamos felizes.




Mas quando o sol foi embora a gente sentiu por algum tempo como se todos os nossos dentes de leite tivessem caído (hiato) e agora precisávamos tomar cuidado com os permanentes. Quase nos esquecemos das lojas de brinquedo e do Drake e do Jhosh. Então resolvemos ir ao cinema do Muller, assistir a um filme de criança e rir até doer a barriga. E acho que só as crianças conseguem rir até doer a barriga com esse filme. "Onde vivem os monstros".

Chegamos em casa tarde e felizes, cheguei a uma conclusão: relógio que atrasa, não adianta.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Notícias meramente pessoais

Por Adrieli Cancelier

Tenho escutado com ainda mais frequência a preocupação dos familiares, amigos e afins, principalmente depois do post sobre o quarto do Harry Potter. Saibam que estamos bem, o x salada aqui é R$2, portanto não passamos fome e se o quarto estiver pegando fogo a gente pode dormir nas esculturas do Oscar Niemeyer. Acho até que meus cabelos estão compridos como nunca e minhas pernas estão grossas como nunca, mas isso porque não tenho dinheiro pra cortar o cabelo e os mosquitos atacaram as minhas pernas durante um passeio ao parque São Lourenço.
Não. Brincadeira. Está tudo bem mesmo, estamos com boas oportunidades de crescer e apesar do medo estamos muito felizes aqui. E além do mais estamos comendo muito bem os super banquetes que eu faço no almoço. Hoje tem arroz, feijão, carne de panela e alguma receita da Ana Maria.

Obrigada pela preocupação, pela saudade e pela vontade que me deixaram de ir ver o Pouca Vogal.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

À moda Harry Potter

Por Andrius Luiz

Enfim retorno as postagens, com centenas de histórias para contar, mas não irei contar todas, pois o meu quarto merece atenção especial nesta postagem.


No segundo dia de Curitiba fui visitar a pensão que eu iria morar, só restava um quarto individual e ele era mais barato que qualquer quarto coletivo, é de se estranhar né? Não! Não depois que você vê como é o quarto.

Após subir cinquenta e noves degraus totalizando seis lances de escada, duas delas em perfeito estado, mais duas com as pontas dos degraus quebradas e por último mais dois lances de escada com degraus estreitos de madeiras rangendo chega-se a um corredor com o teto muito baixo e uma portinha de madeira sem fechadura, mas com uma tranca e cadeado. Passando pela porta, eis o quarto.

A primeira impressão que se tem é que você está entrando no quarto do Harry Potter na casa dos seus tios, pelo menos na versão dos livros, quanto ao filme não sei, ainda não assisti nenhum. Não é em baixo da escada como na história, é em cima, mas bem que se eu quisesse colocar ele em baixo de algum desses lances de escada caberia certinho de tão pequeno que é. Quem sabe assim não seria tão quente.

Na primeira vez que passei pela porta achei que eu estava passando em algum portal que me levava para Criciúma, era quente, abafado, sem circulação de ar exatamente como é Criciúma. Só faltava o cheiro de pirita impregnado no ar, mas como todo criciumense nascido e vivido na cidade não senti nada de estranho. Mas não, não tinha me tele-transportado para Criciúma, não existe nenhum lugar em Criciúma que possa faltar tanto espaço.

Outra prova de que eu não estava em Criciúma, é que a televisão pega uns trinta canais abertos, Criciúma é quanto? Seis? Uma televisão no quarto, muito chic! No presídio só os presos com bom comportamento ou que subornam os guardas que tem esse direito, e na pensão eu tive! Trocaria essa televisão por qualquer ventilador, por menor que fosse, até mesmo um que não funcionasse, mas que eu pudesse olha-lo e ter a lembrança do que seria uma brisa, já seria de grande ajuda.

A vida continua, pelo menos não sentirei saudades de Criciúma, e quando eu quiser lembrar que estou morando em Curitiba é só descer os cinquenta e nove degraus e dar de cara com uma belíssima rua no centro da cidade.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Resurgimento Súbito. Bem grande.

Por Adrieli Cancelier

Ah, enfim Curitiba. Enfim meu notebook. Enfim o blog. Fui pra Criciúma no dia 26 e voltei dia primeiro, por isso essa distância súbita.
Ficamos todos esses dias dizendo que tínhamos que postar logo e enumerando as milhares de coisas legais ou nem tanto  que nos aconteceram, mas eram tantas coisas que eu esqueci todas.
Depois do último post eu senti vontade de me redimir, não quero que pensem que eu estou cuspindo no prato que comi. Criciúma é uma cidade ótima. Enquanto estive por lá eu senti vontade de fazer muitas coisas, mas o tempo era curto... Não consegui visitar a tia Ilze e nem rever os velhos amigos, mas foi bem legal ter feito novos. Foi legal comer pizza de coração torrado e ver a cara de todos na pizzaria quando eu menti que estava grávida.
Se eu tivesse feito uma lista de coisas a fazer antes de morrer, durante a semana que passou eu já teria riscado dois ítens. O primeiro seria "testemunhar algo realmente grandioso", o show do Metallica foi incrível, tocaram os maiores sucessos, aconselho todo mundo a fazer algo parecido.


O segundo ítem - e não menos importante - seria "chorar de rir", o motivo não importa, chorar de rir é uma coisa que eu já fiz muito, mas é sempre ótimo. Resumindo, os dias que passei em Criciúma foram maravilhosos. Foi bom até mesmo ver a enchente, tirando a parte que eu esqueci a câmera e a que muitas pessoas tiveram prejuízo. Disseram que as geladeiras das Casas Bahia ficaram boiando. Três dias de enchente e mais três dias daquele calor infernal que só Criciúma tem, onde o ventilador parece mais um secador de cabelo. E isso que naqueles dias estava uns 32 graus, hoje fez 42. Aqui em Curitiba agora à noite eu passei pelo termômetro que marcava 28 graus, mas parecia bem menos.
Foi bom também comer risoles embaixo do terminal, aqueles salgados são ótimos, vocês deveriam experimentar!
Foi bom ver a lua nos seguindo quase todos as noites, cheia e linda.
Foi ruim ver os pais do Andrius chorando na rodoviária, mas foi ótimo tê-lo ao meu lado durante a viagem e até uma hora atrás.

Por enquanto está dando tudo certo. Já deixamos alguns currículos, já encontramos um quarto parecido com o do Harry Potter (mas isso é história pro Andrius) e no final do dia fomos conferir a liquidação do Shopping Curitiba. Nas lojas de brinquedos, é claro. E como sempre, o Andrius não soube se comportar, sentou-se nas cadeirinhas pras crianças e passou horas apertando em todos os dinossauros possíveis, vendo eles fazerem sons estranhos e acenderem as luzes, alguns até andavam, igual ao dragão da novela. Ok, eram o máximo, vou comprar milhares desses pro Daniel, meu futuro filho (mas a parte da gravidez é brincadeira, ta?!).
Vou comprar também uns Pequenos Pôneis pro Adriel, são tão lindos, com cabelos multi-coloridos e que dizem "mamãe, eu te amo".
A nossa última parada hoje foi no Bar do Alemão, comemos fritas com cebolinha e queijo e bebemos cerveja. Não tinham tantos gordinhos gays quanto no Wonka, mas a comida era boa. Acho que quem gostou mesmo foram as dondocas que estavam comendo caranguejo de luva (elas estavam de luva, não os caranguejos).
Por fim, escutamos pela Rádio Eldorado o Tigre empatar com a Chapecoense em casa.

E pra não dizerem que faço merchandising, o Shopping Muller também está em liquidação até o dia 7.

Agora eu preciso mesmo ir dormir. Amanhã cedo vamos à Agência do Trabalhador, deixar mais alguns currículos e nos matricularmos no cursinho. Vai ser bom estudarmos juntos, teremos mais um monte de histórias pra contar.