Por Andrius Luiz
Foi numa manhã que acordei na casa da Adrieli que a história aconteceu. Levantei cedo do colchão no chão da sala, lavei o rosto, peguei minhas coisas, despedi-me do meu amorzinho que me respondeu com alguns resmungos incompreensivos, disse que também a amava (acho que o resmungo significava um “Eu te amo”) e fui embora.
Eu tinha uma entrevista de emprego pela manhã e dessa vez não queria ficar a manhã inteira de barriga vazia, fui a uma lanchonete cheia de rostos orientais e fui atendido pela única pessoa com um rosto ocidental que perguntou o que eu queria, depois de ler o quadro na parede onde dizia: “x-salada: 2,30” não tive dúvida de que era isso, um x-salada curitibano com pão pequeno e bordas secas, hambúrguer pronto tão pequeno no diâmetro quanto na espessura, uma folha de alface, algumas rodelas de tomate e se eu tivesse sorte viria com uma fatia fina de queijo.
Fiquei frustrado após meu pedido ser recusado, eles não queriam ligar a chapa porque era muito cedo, ainda era um pouco antes das 9h. Tive que me contentar com o “salgado mais refresco: 1,30”.
Saboreando minha coxinha e um copinho plástico com suco de pacotinho vejo um sujeito entrando sozinho, sentando e pedindo um “litrão”. Fiquei curioso, o que será que viria? Um litro de leite? Um litro de café? Mas o que chega foi um litro de Skol acompanhado com um pedido de desculpas:
- Desculpe, mas eu não tinha nenhuma garrafa gelada, elas chegaram quase agora e ainda não deu tempo de gelar.
-Não tem problema, traz um copo com gelo.
Nesse momento já deveria ser 9h da manhã, muito cedo para ligar a chapa, mas não tão cedo para tomar um litro de cerveja com gelo. Com gelo! Isso mesmo, com gelo! Não existe nenhuma hora, em nenhum lugar, sob nenhuma circunstância que se pode tomar cerveja com gelo, mas ele tomou.
- Meu dentista era as 9h, mas fui lá e ele me passou para as 10h, vou ficar sem fazer nada até lá.
Não sei para quem ele disse essa frase, se foi para alguém na lanchonete ou se foi para um espírito maligno que o atormenta e lhe obriga a tomar cerveja com gelo.
Mas foi ao pagar a conta que me aconteceu o fato mais estranho, parei em frente ao caixa e uma mulher me disse:
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion
As pessoas ainda dizem que eu tenho problema de dicção, é porque elas não conhecem essa mulher.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion
Será que o espírito maligno da cerveja com gelo que atormentava o pobre homem invadiu o corpo dessa mulher e me lança pragas na língua secreta dos espíritos malignos?
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion
Claro! Essa mulher deve ser uma japonesa de verdade que não sabe falar português, dizem que aqui em Curitiba são tantos.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong íon
Se ela fosse uma japonesa mesmo porque ela teria saído do Japão e vindo para o Brasil? Ora! Lá deve ter celular com GPS, câmera de 15 MP, rádio AM/FM, TV com mais de cem canais em alta definição e muito mais por menos de US$ 10. Então porque ela trocaria isso pelo Brasil?
- O que?
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion
A não ser que ela estivesse cansada de tanto assistir desenhos japoneses, eu que moro no Brasil e passa desenhos japonês só de vez em quando já estou cansado.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong íon
Mas em algum canal em alta definição do seu celular deveria passar Pokémon, eu não me cansaria de assistir Pokémon.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong íon
A não ser que ela não seja japonesa, mas sim uma chinesa fugindo do governo comunista e ditador porque ela lutava pela independência do Tibet.
- O que?!
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion
Deve ser chinesa, mas saber disso não ajuda em nada na comunicação para que eu possa pagar a conta.
- O que?
- Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong ion
Já sei! vou fazer mímica, mas não vai pegar bem eu fazer mímica das palavras: coxinha de galinha e refresco.
- Deu R$ 1,30! – Disse para a chinesa a mulher ocidental no fundo da lanchonete.
Depois de longos minutos de diálogos produtivo com a atendente chinesa pude ir embora, dei uma olhada para a outra mesa e ainda estava o homem agarrado com seu litrão, nessa altura de tempo os gelos já estavam derretidos enxaguando a cerveja.
Com os pés na rua olhei bem para minha nova amiga, a chinesa, vi no seu olhar todo o sofrimento causado pelo governo chinês e gritei:
- Free Tibet!
Lamento informar que os chineses não falam inglês... "Free Tibet" não deve ter significado muita coisa... mas sobre a história é muito bom comentar sobre isso, para que as pessoas que vêm visitar Curitiba saibam que na verdade estão visitando o novo Oriente.
ResponderExcluirE foi isso que eu falei de manhã: Eu te amo.
Litrão com gelo as nove da manhã não deve ser nada bom! Talvez depois de muitas cervejas não se note nada de ruim no gosto...
ResponderExcluirto na redação da RBS Criciúma, esperando o Greg chegar pra irmos pra facul. Vim fazer um piloto na Atlântida mas não deu hoje, volto segunda que vem. Isso tudo pra dizer que só não me mijei de rir aqui lendo o post acima porque estou na redação da RBS TV Criciúma, e não seria legal mijar aqui.
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Ráu Shengi iong tong ping e pong ing Ang shoin ning foing iong íon!!!!
e
Free Tibet!! o/